quinta-feira, 10 de maio de 2012

Os adolescentes e a homossexualidade


1.  A homossexualidade

As sociedades têm, na sua maioria, uma ideia pré-concebida de que toda a humanidade é heterossexual, que todos os indivíduos que nela se incluem sentem atração por outros do sexo oposto, sendo isso uma norma, quase uma “lei”. O que se encontra para lá dos limites dessa norma é considerado diferente, anormal e, por conseguinte, mau. Estes indivíduos que optam por este meio de vida não convencional devem ser imediatamente excluídos e afastados, sendo a homossexualidade quase comparada a uma doença, uma praga, algo que, se não nos mantivermos suficientemente afastados, se pode alastrar.

Mas pondo de parte todo este preconceito, o que é realmente a homossexualidade? Será uma opção, uma escolha, ou algo genético, uma característica inerente a certos seres humanos quando nascem, tal como o é a heterossexualidade?

O termo homossexualidade teve origem no grego homos que significa mesmo e sexus que significa sexo e consiste na preferência sexual, atração física e emocional, por indivíduos do mesmo sexo. É, segundo estudos científicos recentes, uma orientação sexual definida geneticamente na infância. Existe, no entanto, uma certa controvérsia no que diz respeito às possíveis causas da homossexualidade. Alguns investigadores e psicanalistas defendem que tem uma origem genética. Outros, pelo contrário, partilham a opinião que esta orientação sexual é o resultado da educação e meio ambiente em que os indivíduos em questão foram criados. No entanto, todos eles defendem que a homossexualidade não é uma doença ou uma opção, mas sim uma característica partilhada por certos seres humanos, na qual a vontade individual de cada um não tem qualquer relevância.

Ao longo da história, a homossexualidade foi admirada, tolerada ou condenada conforme o contexto cultural e as normas sexuais da época. Quando admirada, era encarrada como uma forma de melhorar a sociedade. Quando condenada, era um pecado, uma doença, algo que ia contra as normas sociais e bíblicas, contra o que era padrão. Até inícios do último quartel do séc.XIX, a homossexualidade era considerada uma doença mental que até poderia ter causas físicas ou ter surgido devido a um desvio da orientação sexual provocado por uma perturbação nessa área. A partir dessa altura, começa a ser feita grande pressão, por parte dos homossexuais, na comunidade médica de forma a alterar este rótulo de doença. Esta comunidade acabou por ceder, em grande parte devido a não se terem registado qualquer diferenças do foro psicológico e mental entre um indivíduo heterossexual e um indivíduo homossexual. A homossexualidade tem então vindo a perder a denominação de doença, para ser aceite em quase todos os países desenvolvidos. Existem, no entanto, países em que a homossexualidade é ainda associada a um grande mal, chegando mesmo ao extremo de ser considerado crime e condenada a severas penas, incluindo a pena de morte.

O que se verifica em muitas sociedades, essencialmente nas tribos africanas é que a homossexualidade surge como um meio de alcançar prestígio, sendo praticada por todos os homens na fase da puberdade. Na verdade, as primeiras experiências sexuais dos rapazes eram com homens mais velhos, pois só assim eles poderiam ganhar status que os permitissem casar com uma mulher. Para além disto, tinham também que iniciar um rapaz mais novo. Mesmo depois de casados, os homens poderiam continuar a ter relações homossexuais. Por outro lado, a homossexualidade exclusiva era desconhecida e incompreensível.

Família. É um dos contextos no qual os homossexuais também sentem necessidade de se afirmar. É a aceitação da família, daqueles com quem sempre convivemos e que nos deram amor e transmitiram valores e princípios, que primeiramente procuramos. Muitas vezes, só com essa aprovação podemos viver realmente felizes. Nos dias atuais, mesmo a homossexualidade já não sendo um tema tabu, proibido e que cause tanta repulsa e medo, muitos pais ainda temem a futura orientação sexual dos seus filhos, muitos ainda os rejeitam. É mais complicado aceitar quando o problema nos afeta a nós, podendo, em certos casos, até destruir famílias. Mesmo sentindo amor pelos filhos, os princípios e valores enraizados e que foram transmitidos ainda impedem muitos casais de aceitarem plenamente esta orientação sexual. A família é o primeiro lugar onde se procura apoio. Se nem a família aceita, então é preciso questionar se a sociedade o vai fazer, sendo isso que muitas vezes impede um homossexual de revelar a sua identidade.

É na escola que uma criança começa a ganhar certos princípios e ideias que a vão acompanhar ao longo da sua vida. É, portanto, também neste local que se deve começar a educar as crianças no sentido de estas interiorizarem que, independentemente das diferenças, todos somos iguais e temos os mesmos direitos. No entanto, acaba por ser na escola, no lugar que deveria ser o mais neutro, que estes preconceitos se começam a criar e a enraizar. Começa por coisas simples como criar piadas com um aluno que gosta de brincar mais com bonecas ou que se relaciona com as raparigas até concretizar uma plena exclusão desse mesmo aluno, que começa a ser posto de parte em todas as actividades escolares. Muitas vezes estas reacções não surgem só da parte dos colegas, mas também dos professores que os deviam ensinar a ser imparciais, mas que não o conseguem fazer uma vez que eles próprios também não o são. A atitude dos pais também é muito relevante visto que muitas vezes eles incentivam as suas crianças a afastarem-se daquela que apresenta um comportamento considerado por eles como sendo “fora do normal”. Numa fase mais avançada da escolaridade e com esses princípios já enraizados, a exclusão social avança para comportamentos mais violentos como o bullying e agressão física e psicológica.

No que diz respeito à adoção por casais homossexuais também não existe consenso. Há quem argumente que os casais homossexuais são piores pais que os casais heterossexuais, o que não se registou até à data visto que a orientação sexual de um indivíduo não determina a sua aptidão para a paternidade, sendo que os filhos de pais homossexuais são tão saudáveis como quaisquer outras crianças. O facto de terem pais homossexuais também não significa que irão ter a mesma orientação sexual que os pais, visto até que a maior parte dos homossexuais têm por pais casais heterossexuais. 

A relação entre a homossexualidade e a religião variou muito na história, de acorda com a época e os preceitos da religião maioritária. No seio da civilização grega, a homossexualidade era claramente aprovada e incentivada, para, mais tarde, ser perseguida pelo Cristianismo. Atualmente, não é algo positivo e visto com bons olhos, sendo que muitas religiões consideram pecado e rejeitam e excluem todos aqueles que o praticam. Existem, no entanto, algumas vozes dentro das religiões que veem de um ponto de vista mais positivo a homossexualidade. Veem para lá do que é ditado pela religião, conseguindo discernir o amor que existe na união. Concordando ou não, existe um princípio de deve ser considerado universal e transversal para todas as religiões e que está expresso num versículo da Bíblia: a ideia de que, mesmo não concordando com a prática homossexual pois todos temos o direito de ser a favor ou contra, devemos respeitar e não reagir com agressividade ou repulsa.

Como membros de minorias, em muitas sociedades os homossexuais ainda são vítimas de preconceitos e discriminação, o que se traduz, em muitos casos, em violência física e psicológica contra elas perpetuada. Estas reacções são típicas de um comportamento homofóbico. A homofobia foi uma teoria desenvolvida há alguns anos e que se caracteriza pelo medo, aversão ou discriminação contra os homossexuais, tendo por base, algumas vezes, o “medo de contágio”.

Existe também o heterossexismo que é uma atitude mental que implica rotular as minorias sexuais na sociedade como inferiores. A heterossexualidade é, na sociedade, a norma, logo algo normal, sendo que, segunda o heterossexismo, tudo o que vai para lá disso, no que diz respeito à orientação sexual de um indivíduo, é inferior e não merece consideração. É uma atitude de preconceitos e discriminação contra todos os que não são heterossexuais, diferenciando-se da homofobia pois diz respeito a uma atitude partilhada por um todo, um grupo, enquanto a homofobia caracteriza uma atitude individual.

Em suma, apesar de a homossexualidade estar muito mais liberalizada nos dias de hoje, ainda existem alguns focos de discriminação e preconceito, mesmo nos países desenvolvidos. Isto dá a entender, por parte da sociedade e de cada indivíduo em particular, uma “falsa” aceitação da homossexualidade, sendo os mesmos ainda muito excluídos e olhados de lado. É preciso então questionarmo-nos se, nos dias de hoje, isto ainda é admissível, sendo que pregamos ao mundo o quão avançados somos.

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