Fatores que
influenciam a sexualidade adolescente
Podem
ser muito variados os fatores que influenciam a maneira como os jovens encaram
a sexualidade, podendo incluir experiências na infância, relações
interpessoais, e muitos outros. No entanto, neste capítulo considerámos
importante refletir sobre os mais relevantes, sendo estes o ambiente familiar,
as relações mantidas com os amigos, o contexto social e a própria personalidade
dos adolescentes e os seus traços, não menosprezando, no entanto, os meios de
comunicação social que serão abordados em maior detalhe numa fase mais avançada
deste projeto.
Ambiente familiar
Hoje em
dia, a família tem vindo a perder importância nas escolhas tomadas pelos
adolescentes em relação à sexualidade, mas, mesmo apesar disto, esta é ainda
muito importante na maneira como um indivíduo encara a sexualidade. Esta
importância advém do facto de as primeiras relações que uma criança tem serem
com os elementos da sua família nuclear. Assim, estas são as pessoas que nos
conhecem há mais tempo, foram aquelas com quais partilhamos um espaço durante
várias horas por dia, todos os dias, por muitos anos, e foram estes indivíduos
que nos acompanharam em todas as nossas mudanças, aprendizagens e descobertas,
desde crianças até adultos, moldando e influenciando a nossa personalidade. É
precisamente por isto que as relações familiares, quer sejam estas boas ou más,
deixam marcas profundas que permanecem durante toda a vida.
Assim,
se a família tem tamanha importância na personalidade dos jovens, o mesmo não
poderia deixar de suceder na maneira como estes encaram a sua própria
sexualidade, assim como a dos outros, visto que também esta é parte integrante
da sua personalidade.
Dito
isto, é necessário que os pais e/ou educadores tenham consciência de qual a
melhor maneira de abordar e tratar a questão, pois a sua decisão terá
repercussões.
Para
começar, é necessário que o sexo não seja um tabu num contexto familiar, sendo este um dos passos mais
importantes.
Existem
várias maneiras como a sexualidade é frequentemente encarada. É necessário que
esta não seja vista como algo a ser totalmente afastado da vida dos
adolescentes (uma vez que faz parte da natureza humana), e que os pais não
tentem que esta seja vista como algo totalmente proibido e errado pois isto
poderia originar duas reações diferentes: o adolescente, atraído por aquilo que
lhe é negado, passar a encarar o sexo como algo absolutamente trivial,
iniciando precocemente e banalizando a sua prática; ou, por outro lado,
potenciado pela atitude de repressão, transformar-se num adulto que sente a
necessidade de reprimir os seus impulsos e necessidades naturais, vivendo
sexualmente frustrado. Assim, é necessário não fazer do sexo algo “de outro
mundo”.
No
entanto, tal como o sexo não deve ser tomado com excessiva seriedade, é
necessário que seja visto com seriedade suficiente. Ou seja, é necessário que
os pais estejam a par das transformações ao nível sexual que ocorrem nos
filhos, apoiando e ajudando-os nas suas decisões, mas não devem propriamente
incentivar a prática, pois apesar de ser um ato natural que faz parte da vida
de qualquer um, continua a constituir riscos tais como doenças sexualmente
transmissíveis (DST) e gravidezes indesejadas.
O que se propõe é que se encontre um
meio-termo em que exista um clima familiar tolerante e aberto a conversas
francas sobre a sexualidade, no qual o adolescente tenha a oportunidade de
crescer sexualmente tendo o apoio dos seus pais, os quais o devem aconselhar a
seguir o seu próprio ritmo de desenvolvimento. Com esta “preparação”, os jovens
não terão dificuldades em avaliar qual o momento certo para iniciar a prática
da vida sexual, aconselhados pelos pais para que esta não leve a DST,
gravidezes indesejadas ou danos emocionais.
Os amigos
Já foi
acima mencionado que a família tem vindo a perder alguma importância no que
toca a influenciar os jovens na vida sexual, e acredita-se que esta influência
tem sido transferida para os meios de comunicação social. Apesar de esta crença
estar correta, acontece também que os amigos também têm vindo a ganhar
importância.
Esta
esfera do mundo adolescente, os amigos, tem um papel relevante na sexualidade
pois estes representam, por vezes, um escape à família. Imbuídos da verdade de
que “a família não se escolhe”, os adolescentes elegem uma segunda família, a
qual sentem que os compreende melhor, uma vez que vive a mesma realidade e
experiencia acontecimentos semelhantes. Os jovens passam uma boa parte do seu
tempo com os amigos, ocupando estes um grande lugar nas relações interpessoais.
Desta
forma, a opinião coletiva e a dinâmica do grupo é valorizada mesmo numa decisão
altamente pessoal. É necessário compreender que esta influência tanto poder ter
um efeito positivo ou negativo na sexualidade dos adolescentes.
Por um
lado, é possível que a influência de um grupo de pares atue como uma pressão e
não um apoio, levando os jovens a procurar a iniciação da vida sexual o mais
cedo possível. É necessário frisar que no estudo realizado a uma amostra da
população do Colégio Santo André, o qual será analisado em pormenor noutra fase
do trabalho, chegou-se à conclusão de que o papel dos amigos assume relevância
no caso dos indivíduos do sexo masculino mas não registou quase nenhuma no caso
do sexo feminino, o qual considerou que a família teria mais importância. Nos
rapazes, a sexualidade é vista como algo que pode aumentar o estatuto e
prestígio, ou, por outro lado, atuar como uma desvalorização social (consoante
os hábitos sexuais).
No
entanto, é possível que a influência dos alunos tenha um impacto positivo caso
esta se perpetue num clima de confiança e aceitação, no qual os pares podem
funcionar como um órgão de aconselhamento e como uma “bússola moral”. Existe
uma maior probabilidade de isto suceder se os adolescentes tiverem um bom clima
familiar no que diz respeito à sexualidade, como foi explicado acima, uma vez
que já estão familiarizados com qual é a atitude correta perante o sexo nos
dias de hoje.
Contexto social
Já
analisamos o efeito que a família e os amigos podem ter nas decisões sexuais
dos adolescentes dos dias de hoje. No entanto, enquanto estas duas realidades
operam a nível individual, o contexto social opera a nível coletivo. Ou seja,
cada adolescente tem uma família diferente e um grupo de amigos diferentes, mas
a sociedade é algo que é comum a um grande número de adolescentes.
Por
isso, apesar de os adolescentes acreditarem que o contexto social e escolar não
desempenha qualquer papel na sua escolha de iniciar a vida sexual (estudo CSA,
p.?), é necessário admitir que esta é de extrema importância, uma vez que se
vivêssemos num regime repressivo ou sexista (como hoje em dia ainda existem
muitos), teríamos com certeza uma visão diferente do sexo. Disponibilizando um
breve exemplo, basta observar uma sociedade do médio Oriente na qual as jovens
raparigas são forçadas a cobrir todo o corpo e rosto, são discriminadas e não
escolhem o seu próprio marido. É mais do que evidente que, neste caso, o
contexto social suplanta radicalmente todos os outros fatores influenciadores
que na nossa sociedade andam a par e par.
Assim, a
sociedade em que estamos determina a maneira como encaramos o sexo tanto como o
contexto familiar e o grupo de amigos o fazem.
Traços de
personalidade
Frequentemente, os adolescentes convencem–se
de que eles mesmos são o único fator relevante quando chega a altura de
refletir sobre a sua vida sexual. Apesar de esta excessiva noção de
independência ser algo extrema, não deixa de ser característica da idade, e não
deixa de ter alguma razão: a personalidade é de facto um parâmetro extremamente
importante na sexualidade, pois mais do que uma aceitação exterior, é
necessário que exista uma vontade e preparação interior para começar a vida
sexual.
Este fator influencia a sexualidade
adolescente na medida em que inclui a relação do adolescente com os que o
rodeiam, e também consigo mesmo.
A personalidade de cada um diz respeito às
pessoas que rodeiam os jovens e às suas relações pessoais pois é esta que irá
determinar quão forte é a influência dos fatores apresentados acima, e mesmo a
maneira como toda a sua vida sexual é considerada pois apesar de existirem
influências e pressões exteriores, em última instância o iniciar da vida sexual
diz respeito apenas a uma pessoa, pelo que é necessário que a decisão parta
desta mesma.
Por outro lado, é evidente que a sexualidade
afeta a maneira como os jovens se veem a si mesmos pois as decisões que irão
tomar vão atuar como um ciclo em que uma decisão é afetada pela auto estima do
adolescente, e as consequências que daí resultarem irão operar mudanças nessa
autoestima, voltando a influenciar outras decisões. Ou seja, a auto estima faz
parte das causas e das consequências de uma decisão que diz respeito à vida
sexual dos jovens. Uma vez que uma má decisão potenciada por uma baixa auto
estima irá ter efeitos muito negativos num jovem adulto que já se encontrava
numa situação emocional precária, é necessário que o iniciar da vida sexual
suceda no momento e sítio ideais, e com o parceiro ideal.
Conclusão
Concluindo, é necessário compreender que o
ato sexual não se limita a um mero ato físico; este é complexo e deve ser
encarado como tal, pelo que o momento de iniciar a sexualidade deve ser bem
ponderado.
Pessoalmente, defendemos que a sexualidade é
algo que não deve ser banalizado nem menosprezado pois caso isso suceda,
existirão repercussões negativas. No entanto, continua a ser um ato natural que
se inclui nos impulsos e vontades naturais, pelo que não é de todo prejudicial
nem ao próprio adolescente nem ao tecido moral da sociedade, desde que seja
feito tendo em mente a devida informação sobre métodos contracetivos (que pode
ser alcançada através de diversas fontes), e como uma maneira de estabelecer
uma relação com mais significado com outra pessoa no momento certo. De facto, a
sexualidade, se vista da vertente correta e praticada sensatamente, enriquece a
vida dos seres humanos e potencia o seu desenvolvimento.